quarta-feira, janeiro 02, 2008

Lei do tabaco, uma opinião

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.
Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.
O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.
E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía.

Luís de Camões

Desde 1 de Janeiro que é proibido fumar na restauração, locais públicos, transportes, áreas comerciais e culturais, etc. Este é um assunto que está longe de estar arrumado, a procissão ainda agora vai no adro. E o facto do responsável máximo da entidade que fiscaliza as áreas comerciais e de restauração (ASAE) ter sido fotografado no dia 1 de janeiro a fumar num casino, também não ajuda. Também é certo que a proibiçao pura e dura, sem qualquer tipo de sensibilização ou acompanhamento dos principais visados não é correcta, e é comum dizer que o fruto proibido é sempre o mais apetecido, principalmente num país pouco habituado a cumprir regras. Mas sejamos razoáveis. Argumentos como os que tenho ouvido, sobre tratar-se de um atentado à liberdade individual ou que em cada um de nós nascerá um PIDE, parecem-me exagerados e reflexo de um raciocinio muito arcaico. Porque é que estas mesmas pessoas não se importaram de respeitar um pouco mais a liberdade dos que não fumam, até agora. Porque é que é tão consensual que não se fume em transportes públicos e áreas culturais, e se critique tanto a abolição do tabaco na restauração e nos centros comerciais? O princípio deveria ser o mesmo, o respeito pelos outros que escolheram não fumar, e é pena que seja necessário uma lei deste género para que esse respeito seja lembrado. Obviamente que o interesse do Estado não é que as pessoas deixem de fumar, e já estamos cá há tempo suficiente para saber que de boas intenções está o inferno cheio, mas não vale a pena fazer desta situação um drama. Bem sei que nos tempos que correm, para alguns, fumar é uma das únicas formas de evasão do espírito a que têm acesso, mas quem conseguir, aproveite para deixar de fumar, sempre poupa uns trocos. Quem não conseguir, aproveite para conviver mais ao ar livre, fazer mais compras nas zonas de comércio nao fechadas, e quem sabe até contribuir para que haja mais esplanadas, mais gente nas ruas e mais quiosques onde possam beber o cafezinho. Que fique bem claro, como costumo dizer, que não tenho nada contra fumadores, até tenho amigos que são, mas da mesma forma que durante anos muitos se calaram, conformaram e tentaram viver com a adversidade, está na hora de outros fazerem o mesmo, e não há de ser um sacrificio assim tão grande...! Pena que as pessoas não se juntem para reivindicar direitos muito mais importantes e imprescindíveis.

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