terça-feira, março 04, 2008

Juno, de Jason Reitman (2007)

"Juno" é o novo "Little Miss Sunshine" do cinema norte-americano. Nos últimos anos temos assistido a um aumento da produção de cinema dito independente nos EUA, embora esta não deixe de ser protagonizada normalmente por actores relativamente conhecidos. Não se trata de um tipo de cinema marginal de espirito Indie, mas ainda assim representa uma crescente tentativa da produção norte-americana filmar outras histórias, fugir ao mainstream (embora continue a piscar o olho a esse público) e diversificar a oferta. Também os Óscares, começam a olhar para este tipo de filmes. A boleia das suas nomeações (o filme entretanto venceu na categoria de Melhor Argumento Original) atraiu muita gente ao cinema, principalmente nos EUA, tornando-o um sucesso de bilheteira aparentemente inesperado.
"Juno" tem todos aqueles ingredientes típicos do tal dito cinema "alternativo" americano, desde as grandes revelações na interpretação até aqueles actores secundários que nunca ninguém repara mas que nestes filmes são sempre aclamados. Tem uma excelente banda sonora, a apelar aos ouvidos mais alternativos (Belle and Sebastian, The Kinks, Sonic Youth...) e personagens disfuncionais, atípicas, outsiders. E tem também o dom de contar uma história séria com bastante humor e de forma ligeira, o que também é típico deste género de filme. Os diálogos, apesar de simpáticos e engraçados, revelam também a tentativa excessiva de debitar pérolas que fiquem na memória. A fórmula, pois, já estava inventada.

Juno é uma adolescente que engravida do seu apático e geek amigo Bleeker e opta por não fazer um aborto mas sim recorrer à adopção. Para tal escolhe o casal de yuppies que lhe parece ideal, tentando assegurar que aquela criança terá o que neste momento não está preparada para lhe dar. Juno não é uma adolescente típica, não é apática, tem sempre algo a dizer e recorre regularmente ao sarcasmo e à sinceridade espontânea. É com essas caracteríticas que Juno invade as vidas de quem com ela contacta, e como seria de esperar, este não é um filme sobre uma gravidez indesejada, é um filme sobre afectos, relações humanas, que mais uma vez nos revela uma geração (na casa dos 15) que tem tanta coisa para se entreter mas está sempre entediada, mas que foca igualmente a geração seguinte (na casa dos 30) que nunca é aquilo que um dia quis ser, ou mesmo a geração dos pais, que normamente está tão desfasada em relação à dos filhos.
Apesar de não ser um filme muito original, vale a pena descobrir o universo de Juno. Há no entanto que encontrar um melhor caminho para o chamado "Novo Cinema Americano", uma vez que este género que aqui vemos já tem vindo a ser amplamente explorado (geralmente bem) nas séries de televisão.

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