domingo, fevereiro 04, 2007

Stranger Than Fiction
de Marc Forster, com Will Ferrel, Maggie Gyllennaal, Emma Thompson...

Harold Crick (Will Ferrel) é um funcionário das finanças, com uma vida rotineira, regrada, com hábitos extremamente enraízados e cujo dia-a-dia é cronometrado ao segundo pelo seu relógio. Harold vive, come e dorme sozinho. A sua vida é monótona e pouco criativa. Até ao dia que Harold começa a ouvir uma voz que descreve com precisão tudo o que acabou de fazer, com detalhe dos seus pensamentos mais intimos, as suas opiniões, voz essa que fala sob a forma de narrativa, como se estivesse a ler ou escrever um livro. Na verdade, há de facto alguém (Emma Thompson) que está a escrever um livro sobre Harold, mas que nem sequer sabe da sua existência e que atravessa uma grande crise de criatividade que se prende precisamente com a necessidade de arranjar um final para o seu livro, um fim no qual o protagonista morre (como em todos os seus livros). Stranger Than Fiction (em português chama-se ridiculamente "Contado Ninguém Acredita"), realizado por Marc Forster, é um dos mais originais filmes dos últimos anos, no seguimento do cruzamento entre realidade e ficção de filmes como "O Despertar da Mente" ou "Queres ser John Malcovitch". O argumentista, aliás é muitas vezes comparado a Charlie Kaufman, escritor dos dois referidos filmes.
Estamos perante uma história interactiva que tem o seu expoente máximo quando o narrador e a personagem principal se encontram e os dois mundos colidem. A história tem os seus altos e baixos, e o final do filme é muito discutivel. Este é um filme que se acabasse 10 minutos antes do fim seria perfeito, embora duro, cruel e possivelmente deixaria nos espectadores um amargo de boca muito grande. Mas como quase todos os filmes americanos, é necessário um Happy Ending e o que foi encontrado para este filme, apesar de tudo, não deixa de ser criativo e de certa forma consegue resultar. Ainda assim desilude, como também desiludiu a autora do livro e o professor de literatura (que ajudou Harold a desmistificar o que se passa). Esta é uma história que parte de uma excelente ideia que nem sempre se concretiza. É daquelas narrativas que imagino resultar perfeitamente em livro mas cuja transposição para o grande ecrã carece de mais engenho e arte. Todavia, é um bom filme. Destaque para a banda sonora, que ajuda em muito a dinâmica do filme e que consegue viver sem o suporte visual, como disco autónomo.

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