terça-feira, março 21, 2006

"A History of Violence", David Cronemberg
There’s no such thing as monsters

O novo filme de David Cronemberg traz até nós uma América provinciana e pacata onde o sentimento de comunidade funciona como uma carapaça de protecção à rotina e previsibilidade dos seus habitantes tradicionais e corriqueiros. O mesmo David Cronemberg de "A Ninhada" ou "A Mosca", aparentemente virou-se contra si próprio e contra a sua fórmula de sempre. "There’s no such thing as monsters", diz o protagonista à sua filha, angustiada após ter tido um pesadelo com monstros. Mas neste filme os monstros são outros... e corporizam-se em fantasmas do passado, nas mentiras e na ilusão e medo de não saber quem é a pessoa que esteve ao nosso lado a vida inteira. Mas apesar desse aparente afastamento do lado "monstruoso", há elementos típicos da cinematografia do realizador como a violência e o sexo (na sua forma brutal e carnal), que se mantêm presentes, bem ao estilo de "Crash" (o polémico filme do realizador, onde eram exploradas relações mecânico-sexuais). Estamos perante um filme que, a par de "Caché - Nada a Esconder" de Michael Haneke, nos faz sentir um aperto no peito durante todo o filme, sensação que é ajudada pelas interpretações nuas e cruas de Viggo Mortensen e Maria Bello.
A ilusão e a crença é o que ainda nos vai permitindo sobreviver, mas a desilusão é capaz de nos matar!

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