terça-feira, dezembro 18, 2007

Paranoid Park, de Gus Van Sant (2007)

Nova incursão de Gus Van Sant pelo universo ambivalente da adolescência. Desta vez, é-nos contada a história de um jovem americano, skater, que acidentalmente mata um homem nas imediações de uma área perigosa de Portland, chamada Paranoid Park, uma espécie de zona nobre e vip para os praticantes de skate. Esse é o mote para que o realizador filme mais uma vez o desencanto da vida nos jovens americanos, a apatia perante o que os rodeia, o total alheamento face às questões políticas e sociais do país e do mundo, mas também o desespero e a angústia interiores, o viver em silêncio um acontecimento tão grave. Através do recurso a planos fixos e de câmara lenta (fotografia de Christopher Doyle, colaborador habitual de Wong Kar-wai), em detrimento de um enredo mais elaborado, Gus Van Sant aproxima-se mais do espectador, porque nos deixa também em suspenso, e dá-nos igualmente tempo para contemplar a obra, mas também para reflectir sobre a nossa própria existência. Para lidar com os seus fantasmas, nada melhor que escrever sobre eles, e melhor ainda queimá-los no fim. A verdade foi escrita, foi assumida e consciencializada por ele, apenas não foi revelada a outrem. Mas o exercício de purgação da alma foi feito. Do ponto de vista do espectador, a cena em que o jovem queima o que escreveu é de facto marcante, para tal ajudando a música de Elliot Smith. Paranoid Park é um filme que transpira sensações, e cabe a nós captá-las uma a uma. É entre silêncios que muitas vezes, coisas importantes são transmitidas.

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