sábado, abril 28, 2007

Indie Lisboa 2007 - Dia 8 (26/04)
"Le Dernier des Fous" e "Shortbus"

Na quinta-feira passou na sala 1 do King uma das grandes surpresas do festival, e da competição internacional, "Le Dernier des fous" de Laurent Achard. Trata-se de um dos filmes mais bonitos que alguma vez vi. Assistimos à desintegração de uma família pelos olhos de uma criança de 11 anos. A mãe da criança é o motivo desse estado, está fechada no quarto há tempo indeterminado com uma qualquer doença mental que a impede de ver pessoas e sair; o irmão mais velho, companheiro de brincadeiras, poeta incompreendido e não correspondido no amor, dedica-se ao alcool; o pai assiste impotente a este declinio, arriscando-se a perder a quinta onde vivem; a avó é uma pessoa austera e sem o minimo de compaixão. A única companhia de Martin é a governanta que o vê como um filho. Ninguém comunica nesta familia, o vazio em que vivem ano após ano impede-os de continuar e de comunicar. Grande interpretação do jovem Martin, rapaz um pouco apático e pouco expressivo, quase autista, mas com um olhar intenso, provocador e sensível ao mesmo tempo, de quem sentimos um misto de compaixão e de medo. Só ele pode mudar a ordem das coisas e acabar com tudo. Ele é o último dos loucos.
http://www.advitamdistribution.com/fiche.php?film_id=73

"Shortbus", de John Cameron Mitchell, que passou nessa noite na sala principal do S. Jorge, é outra das supresas do dia. É um filme verdadeiramente alucinante, contagiante, surpreendente, chocante. O filme foi comprado pela Lusomundo, tem estreia marcada para 3/05 e acredito que vá chocar muita mente puritana. Várias histórias se cruzam ao estilo "Magnólia", a da terapeuta sexual que não consegue ter um orgasmo com o marido, a do casal gay que pretende passar a uma nova fase da sua relação, a da dominatrix que não consegue manter relacionamentos... culminando todos numa festa semanal chamada Shortbus, onde se concentra arte, música, política, desejos e fantasias sexuais de todas as espécies e feitios. O filme é de uma originalidade e ousadia pouco vistas no cinema americano (mesmo o mais independente), é extramamente explícito mas não cai na vulgaridade porque tudo está perfeitamente contextualizado. A verdadeira revolução sexual está aqui. Provavelmente esta ficção vai levar ao cinema pessoas ao engano julgando que se trata de uma comédia ao estilo American Pie, ou levará o publico errado que apenas quer ver sexo. O filme tem tido criticas desde o péssimo até à obra prima. Arrisco dizer que está algures nessa escala. Provavelmente será o novo hype da juventude dita alternativa, e embora diga isso com alguma ironia, o filme tem de facto qualidade, conciliando o desejo carnal e sexual, às necessidades de um amor profundo.

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