segunda-feira, maio 01, 2006

“Um Pouco mais pequeno do que o Indiana”, de Daniel Blaufuks

Portugal, Campeonato Europeu de Futebol 2004. O país viveu meses de exaltação do ego nacionalista, os jogadores de futebol foram promovidos a heróis nacionais e bandeiras nacionais avistadas em janelas, carros, e outros sítios menos prováveis; o verde e vermelho foram as cores que mais se vestiram e o hino nacional teve direito a toque de telemóvel. Portugal apresentou uma fachada para a Europa e para o Mundo, dando ares de moderno, desenvolvido e civilizado.
Contudo, em Julho de 2004, no rescaldo do campeonato de futebol, Portugal era um país destroçado, desmoralizado, em crise de identidade, e de tão envergonhado, ficou ainda mais pequeno... um pouco mais pequeno que o Indiana.
Aproveitando-se da especificidade desse momento, um fotógrafo português com nome estrangeiro, Daniel Blaufuks, ao volante de um Mercedes antigo, galgou estrada pelos caminhos de Portugal, e viu tanta coisa linda, tanta coisa sem igual. Blaufuks tinha como missão filmar o seu país e retractar uma paisagem em constante mutação, diferente da que tinha gravada na sua memória e nos postais de outrora. Apostado em apanhar em flagrante Portugal no seu melhor, o realizador filma as rotundas desnecessárias, as merendas nos pinhais (onde deflagram os incêndios), os estádios fantasma do Euro, as vivendas decoradas com mau gosto, as piscinas, os mamarrachos da “arte pública”, o desrespeito no trânsito, as televisões sempre ligadas... e na verdade não filma mentira nenhuma! Essas imagens são acompanhadas por informação estatística sobre o carácter dos portugueses: o povo mais desconfiado, o menos educado, etc...
Contudo, é evidente neste documentário uma tentativa forçada de concretizar e comprovar um conjunto de noções que o autor já tinha previamente, isto é, só filmou aquilo que legitima a sua visão e que vai ao encontro dos seus propósitos, revelando-se tendencioso, minimalista e, acima de tudo, superficial. No seu documentário (ou comentário, como o autor prefere) não há lugar a qualquer problematização, reflexão ou análise, que é essencial no enquadramento de imagens (que são factos) e dados estatísticos. O autor limitou-se a narrar e opinar (e que péssima narração!) meia dúzia de lugares comuns (sempre negativos) e não procurou desconstruir a realidade que se lhe afigurava, que encarou de forma passiva e unilateral. Com alguma arrogância e presunção o autor revelou conter em si uma das características típicas do português – dizer mal de tudo!
Não querendo cair nessa mesma maledicência, destaco positivamente a banda sonora do filme, a cargo dos Dead Combo, pautada também por músicas dos tempos da velha senhora (Duo Ouro Negro, Eduardo Nascimento), os bons ângulos fotográficos (ou não fosse o autor também fotógrafo), as imagens de arquivo e, apesar de tudo, a discussão que o filme consegue suscitar.

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