quinta-feira, maio 04, 2006

Murderball, de Henry-Alex Rubin

Murderball é uma prática desportiva que consiste numa espécie de Rugby, mas praticado por tratraplégicos em cadeira de rodas especialmente apetrechadas para o efeito. É também o nome de um documentário de Henry-Alex Rubin, (vencedor do Festival de Sundance 2005 e que curiosamente esteve entre os nomeados para Óscar de melhor documentário em Hollywood), que acompanha o quotidiano de um conjunto de homens incapacitados fisicamente e que ficaram tetraplégicos, exibindo-nos o dia-a-dia de duas equipas da referida modalidade, que são rivais, EUA e Canadá, nomeadamente na sua preparação para os Jogos Olímpicos de Atenas, em 2004. A pretexto do acompanhamento da preparação para esse acontecimento desportivo, conhecemos o seu percurso, o seu ambiente familiar, as suas histórias de vida, e a forma como lidam com as suas limitações, desde o momento em que ficaram nesse estado até à sua recuperação. Para os participantes no documentário, a recuperação passou precisamente pela prática desportiva, pondo o filme em evidência a forma como o desporto consegue reunir todo o tipo de pessoas e como a competição pode funcionar como terapia, física e psicológica.
Este é um documentário, autêntico, realista mas também informal, sendo por exemplo pautado por momentos cómicos (como as cenas em que são abordadas as práticas sexuais e de engate dos intervenientes). É, com efeito, um verdadeiro “murro no estômago” de quem assiste, e que leva a que nós, que não temos limitações físicas, ponhamos em causa muitas das nossas atitudes perante a vida. Estes homens não perderam tempo, aprenderam a viver com deficiência e a lutar por uma vida com qualidade. Não há aqui lugar a lamechices ou qualquer manifestação de pena, apesar de existirem alguns momentos dramáticos que apanharam o próprio realizador desprevenido, como quando um dos tetraplégicos sofre um ataque cardíaco e assistimos às implicações desse acontecimento na vida dos colegas e familiares e do próprio doente, que mais uma vez não desiste. Curiosamente uma das figuras centrais do filme, Joe Soares, é português, e lamenta que em Portugal haja tanta ignorância e preconceito no que toca a estas questões, destacando que aqui não teria qualquer hipótese de recuperação e de levar uma vida digna e praticamente normal. Lamentavelmente tem razão.
Não há motivo para não ir ver este documentário, que estreará brevemente nas salas nacionais.

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