domingo, maio 07, 2006

Geminis, de Albertina Carri

Este não é um filme de fácil digestão. A temática principal é a relação incestuosa entre dois irmãos (Jeremias e Meme), no seio de uma família de classe alta, que vive de públicas virtudes, mas também de vícios privados. A pretexto do casamento do filho mais velho (que vive em Espanha), a família reúne-se durante alguns dias para comemorar o acontecimento com pompa e circunstância. É nesse contexto que nos apercebemos da relação amorosa existente entre os dois filhos mais novos, (e que já dura há mais tempo) relação que se desenvolve de uma forma muito intensa, dramática, carnal e por fim, claro está, trágica. Curiosamente esta é uma temática recorrente nas novelas sul americanas, e a realizadora argentina Albertina Carri, inteligentemente demonstra-o numa das cenas do filme. Subjacente a esta história, encontramos neste filme uma clara crítica à sociedade oca e dos bons costumes, que vive de aparências, como é o caso da família retractada. Na verdade estamos perante um filme com um enredo bastante simplista, contudo nada simples de abordar pela complexidade que a temática do incesto encerra.
Ainda que o fim não seja dos mais originais (e não era assim tão difícil imaginar um final à medida desta história e ao mesmo tempo que não fosse previsível), é extremamente interessante a abordagem deste sentimento único entre os dois irmãos que foi para além do que é socialmente aceitável, mas também assistir à repercussão que a revelação de tal “anormalidade” tem na vida dos restantes familiares.
Destaque ainda para o papel dos pais, uma mãe hiperactiva que vive para o socialmente correcto, e um pai adormecido e ausente. Estas personagens ajudam a caracterizar o contexto e conferem ao filme mais alguns motivos de interesse.
É perturbante, incómodo, polémico, sofrido e cruel... mas apaixonante.

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