domingo, maio 06, 2007

Il Caimano, de Nanni Moretti

Depois de "O Quarto do Filho", filme no qual a família (enquanto instituição) já tinha um papel preponderante, como aliás acontece em toda a obra do realizador, chega-nos (com relativo atraso, diga-se) o novo filme de Nanni Moretti, "Il Caimano". Se, em toda a cinematografia de Moretti, estava sempre latente uma crítica de costumes, relativamente aliada à realidade política de Itália, neste filme essa presença é muito mais explícita. O filme trata da história de Bruno, um homem em perda e desencantado com a vida, quer pessoal quer profissionalmente. Bruno é um produtor de filmes de série B, que há 10 anos não produz um filme. Simultaneamente o seu casamento está em declinio, vive ainda com a mulher mas escondem dos filhos a dura realidade do divórcio. Inadvertidamente Bruno encontra-se na circunstância de ter de produzir um filme sobre (e contra) Berlusconi.
E é também sobre Berlusconi que é O Caimão, que tem um filme dentro do filme. É a articulação entre a história pessoal, de uma familia, e de um país, aliada a um filme sobre Berlusconi e os últimos 30 anos em Itália que trata o novo filme de Moretti. Com uma realização bastante ágil, o realizador alterna a vivência pessoal de Bruno com a existência profissional, isto é assistimos a uma alternância entre imagens do filme que está a ser idealizado, e o próprio filme que estamos a assistir. Nunca um filme de Moretti foi tão declaradamente político, mas desengane-se quem pensa que este é um filme que apenas vive dessa associação com a política. Estamos perante um produto que representa bem a responsabilidade social que o cinema também deve ter sem, contudo, fazer campanha política. Numa altura em que vivemos numa era de desencanto face a quem nos representa, numa era em que se questiona o que é de facto ser de esquerda ou ser de direita e quais as verdadeiras diferenças entre ambas as facções, esta é a história de uma familia e de um país que não está assim tão longe da nossa realidade. Não sendo uma obra prima, nem sequer o melhor filme do realizador, destacam-se os diálogos das personagens e a boa interpretação do protagonista.

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