quarta-feira, janeiro 23, 2008

4 meses, 3 semanas e 2 dias, de Cristian Mungiu (2007)

O cinema romeno está na moda, ou pelo menos assim parece, dada a recente proliferação do mesmo nas nossas salas de cinema. Após as recentes projecções de "A Morte do Sr. Lazarescu" e "12:08 A Este de Bucareste", chega-nos agora este "4 meses, 3 semanas e 2 dias" do realizador Cristian Mungiu, vencedor da Palma de Ouro em Cannes, o ano passado. A acção do filme, passa-se, no entanto, 20 anos antes, em 1987, nos últimos tempos do comunismo romeno, numa altura em que o aborto era proibido às mulheres com menos de 40 anos. Trata-se de um filme cru, frio e duro, que nos remete para uma realidade igualmente cruel, o aborto clandestino. Sem moralismos ou juízos de valor (não é esse o objectivo do filme), o realizador encaminha-nos para uma representação demasiado real desse processo. De salientar a forma notável como no decorrer do filme, o acto em si é colocado como mais uma tarefa a realizar nesse dia, sem grandes momentos para reflexão, sem floreados, o que denota bem como o aborto clandestino estava extremamente enraízado no quotidiano destas pessoas. O mundo não para, há que continuar a frequentar a escola, a ir a um jantar de aniversário, enquanto se ajuda (ajuda que vai para além do mero apoio moral) a amiga que está no hotel à espera que se dê o desmancho. Vivia-se numa sociedade em que todos os gestos eram controlados, todas as acções suspeitas e cada qual tentava sobreviver num clima de repressão social. Este é um filme em tempo real, daí que só paremos para respirar quando as protagonistas também respiram, vemos o mesmo que as personagens veêm, da mesma forma que não fazemos a minima ideia como o filme vai acabar tal como elas não sabem como acabará esse dia. Apesar de ser um bom filme, está, quanto a mim, sobrevalorizado, o que advém claramente do rótulo adquirido pelo prémio em Cannes.

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