domingo, maio 04, 2008

Import Export, de Ulrich Seidl (2007)

Indie Lisboa 2008

O festival Indie Lisboa não é so entretenimento. Pela tela passam em grande medida filmes que focam realidades sociais críticas, sociedades deterioradas e grupos sociais desfavorecidos. São histórias que também merecem ser contadas, e cujo papel do cinema é também aproximar e alertar o público para realidades diferentes da nossa, e que de outra forma só conheceriámos através dos noticiários e jornais. Import Export, de Ulrich Seidl é um bom exemplo, e poderia ter como subtítulo "O lado negro da Europa". Trata-se de um filme rodado maioritariamente por actores amadores (o que confere ainda maior realismo ao filme, e permite uma maior identificação com o cidadão comum), que nos conta duas histórias parelelas que apesar de não se cruzarem literalmente, partilham em comum o desencanto vivido pelas personagens, que procuram uma vida melhor, para além das fronteiras do seu país, e das situações muitas vezes degradantes a que se têm que sujeitar. Import Export versa sobre algumas das realidades mais cruéis da nossa Europa, a emigração clandestina, a exploração e o tráfico humano, etc. Uma das histórias é sobre Olga, uma enfermeira ucraniana que ao emigrar para a Austria, trabalha como empregada de limpeza e tem um part-time em cibersexo. A outra é sobre Pauli, um ex-segurança austríaco, que acompanha o padrasto pela Europa fora, acabando precisamente na Ucrânia, onde se perde no meio de tanta boémia.
Trata-se, pois, de um retrato bem mais cinzento que aquele que Bruxelas nos tenta passar. São realidades que, mesmo que a comunicação social as veicule, não nos dá tempo para qualquer percepção ou compreensão mais elaborada. Assim, estes filmes são um ponto de partida para que se possa verdadeiramente discutir estes assuntos.

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