quinta-feira, novembro 29, 2007

Control, de Anton Corbijn (2007)

Love will Tear Us Apart

O meu contacto com os Joy Division pode dizer-se que é "recente". Nasci apenas um ano depois da morte de Ian Curtis e apesar de não saber muito bem quando comecei a reconhecer os primeiros acordes de músicas como "Love will Tear us Apart", "Transmission", ou "She's lost control", a verdade é que não foram assim tantas as vezes que ouvi os seus álbuns, o que não significa que não necessite de os ouvir de vez em quando, e que os aguarde com alguma ansiedade, em muitas dessas noites por aí. Acabei por acompanhar mais, naturalmente, a banda pós Ian Curtis, os New Order. Mas foi o filme "24 Hour Party People" que inicialmente me chamou a atenção para essa personagem incompreendida, conflituosa e amaldiçoada que é Ian Curtis.Talvez porque não sou um fã incondicional da banda, é que terei gostado tanto do filme. Porque o apreciei apenas enquanto filme e vendo Ian Curtis para além do mito, apenas na sua dimensão humana, e claro está, mortal. E que dificil tarefa essa de fazer um filme tão aguardado, um biopic de alguém tão amado e venerado. Mas Anton Corbijn fê-lo na perfeição nesta que é a sua primeira realização para cinema. Corbijn é um conhecido fotógrafo (daí a perfeição estética da fotografia do filme), responsável pela realização de alguns videoclips.

"Control" documenta os últimos anos da vida de Curtis (na verdade, são também os primeiros enquanto jovem adulto), desde a relação com a sua mulher, com quem casou muito cedo e teve uma filha, à relação com a amante, a luta e o inconformismo face à doença (epilepsia) e o medo do que o futuro lhe reservava enquanto artista em ascensão. Ian Curtis suicidou-se a 18 de Maio de 1980, mas é impressionante a actualidade e proximidade desta figura. Muito se tem escrito sobre este filme. Foi capa de publicações como "Ipsilon" (do Jornal Público), "Actual" (do Expresso), com grande destaque na Blitz, Time Out,etc. São artigos e críticas em grande parte escritos pelos tais fãs incondicionais, ou pelo menos por alguém que tenha um conhecimento suficiente da obra da banda e da história do seu vocalista. Também por isso não me atrevo a escrever muito mais. Destaco no entanto, e ainda, as excelentes interpretações do quase estreante Sam Riley (que já tinha estado em "24 Hour Party People", contudo a sua cena não fez parte da versão final do filme) e Samantha Morton (de quem me lembro do filme de Woody Allen, "Sweet and Lowdown"). Destaco ainda a fotografia, a preto e branco, mas também a cinzento e o tom sombrio da película, tão próximos da personalidade de Curtis e do cinzentismo da sua história. E por fim, a excelente banda sonora: Joy Division, New Order, David Bowie, Roxy Music, Velvet Underground...

http://www.controlthemovie.com/

quarta-feira, novembro 28, 2007

Across the Universe, de Julie Taymor (2007)

Across the Universe, é mais um filme que chega às nossas salas de cinema tendo como pano de fundo a música, a par dos recentes "As Canções de Amor" e "Control". Este filme de Julie Taymor (realizadora de "Frida"), passa-se nos quentes anos 60 americanos, por alturas da guerra do Vietname, num momento em que o lema era "Peace and Love" e se fazia a apologia de "Make Love, Not War". A esse cenário juntaram-se algumas músicas dos Beatles, misturou-se tudo muito bem com um razoável argumento e boas interpretações, condimentou-se com muita côr e muita dança, mas por fim serviu-se apenas um prato morno. Trata-se de um filme muito bem intencionado, que parte dessa grande oportunidade que é a utilização do espólio musical dos Beatles, cujas letras se associam ao argumento e no fundo conduzem e dirigem completamente a história, mas no fim, sabe a pouco. Ainda assim, tem momentos muito bem conseguidos e visualmente apelativos (ao estilo de alguns videoclips dos Beatles ou de material dos Monty Python, e até mesmo o universo onírico de "A Ciência dos Sonhos"), mas que infelizmente são apenas uma parte melhor concretizada de um todo menos conseguido. São 131 minutos de película que pouco tempo deixam para mais do que as 33 músicas dos Beatles que constituem o filme (ainda que, em alguns casos, sejam recriadas brilhantemente, sublinhe-se). Ficamos, pois no meio entre um musical que não o é totalmente, e uma história que nunca chega a ser consistente. Mas o saldo é positivo e felizmente está em cartaz, disponível para visionar, criticar, adorar ou detestar, embora seja daqueles filmes que a Lusomundo (distribuidora do filme) normalmente edita só em DVD, o que só por si, fará dele, certamente, um filme de culto.

Indie Lisboa 2007/2008

Enquanto o Indie Lisboa 2008 (que terá nova imagem) não chega, na próxima semana haverá oportunidade para ver ou rever alguns filmes da edição 2007.
As sessões decorrerão na Sala de Conferências da Reitoria da Universidade de Lisboa, de 3 a 7 de Dezembro, às 18h. Entrada Gratuita.

Programa:
3 Dez. – Segunda-feira, 18h I am a sex addict , de Caveh Zahedi, EUA, 2005, 98'
4 Dez. – Terça-feira, 18h Balaou, de Gonçalo Tocha, Portugal, 2007, 77'
5 Dez. – Quarta-feira, 18h Analog Days , de Mike Ott, EUA, 2006, 80'
6 Dez. – Quinta-feira, 18h Patterns 3 , de Jamie Travis, fic., Canadá, 2006, 18'A Ilha da boa vida, de Mercês Gomes, doc., Portugal/Índia, 2006, 24'Zepp, de Moritz Laube, fic., Alemanha, 2006, 45'
7 Dez. – Sexta-feira, 18hLife in Loops: a Megacities Remixe, de Timo Novotny, Áustria, 2006, 79'

Mais informações em www.indielisboa.com e www.ul.pt

domingo, novembro 25, 2007

Cinemas em Lisboa II

Mais alguns cinemas de Lisboa.

Cinema Nimas: na Av. 5 de Outubro ainda se mantém esta sala, onde passam normalmente reposições, ciclos de cinema ou filmes de autor. É uma espécie de familiar do King, pertencente ao mesmo grupo. A fachada mantém-se. O interior continua muito vintage.


Cinema Roma: actual Fórum Lisboa, na Av. de Roma. Em termos de cinema a sua utilização actual resume-se ao Indie Lisboa e a outros festivais ou acontecimentos pontuais. De resto, enquanto propriedade da Câmara Municipal de Lisboa, alberga as reuniões da Assembleia Municipal e outras actividades promovidas pela CML. A fachada mantém-se.


Cinebolso: cinema pornográfico, ali para os lados do Saldanha. A fachada mantém-se igual à da foto. Esta semana a não perder "Ultimatos e Abusos Anais".


Cinema Império: um majestoso cinema, que mantém ainda a sua fachada. Lá por dentro, só Deus sabe o que se passa. É, há muitos anos, propriedade da IURD. O café Império, independente do cinema, é um dos últimos cafés antigos da cidade, recentemente reaberto com a nova cara.

Tal como no post anterior, a fonte das fotos é o Arquivo Municipal de Lisboa.

sexta-feira, novembro 23, 2007

Cinemas em Lisboa

E por falar em cinemas em Lisboa, ficam aqui algumas imagens que fazem parte do passado.

Cinema Alvalade. Demolido recentemente para dar lugar a habitações de luxo, escritórios de luxo e cinemas de luxo de nome Hollywood Residence. O Cinema chamar-se-á Cinema Versailles e será gerido pela CinemaCity, também já responsável pelos cinemas do Campo Pequeno.


Cinema Éden: Faz falta um cinema na Praça dos Restauradores. Em vez disso e depois da saudosa Virgin Megastore, o edificio, além de Hotel de Luxo, alberga a maior Loja do Cidadão da cidade.

Cinema Condes: a fachada mantém-se, mas hoje de cinema não tem nada. Actualmente é o Hard Rock Café.


Cinema Apolo 70: dos cinemas do velhinho centro comercial Apolo 70 já não existem vestígios. Apenas o centro comercial se mantém, mas não deve ser por muito mais tempo, já que existem projectos para renovação daquela área até Entrecampos.

quarta-feira, novembro 21, 2007

Cinema King Triplex - Parte 2

Num artigo sobre "Cinemas Antigos de Lisboa a desaparecer" (que vale a pena ler), publicado hoje no jornal Metro, Paulo Branco, proprietário do King desmente categoricamente que este vá fechar:

"O produtor aproveita, ainda, para desmentir uma informação avançada por Fernando Lopes, em declarações ao «Correio da Manhã». O realizador disse, então, que o cinema já tinha sido vendido para «a construção de garagens do Hotel Lutécia». Paulo Branco assegurou que esta notícia «é um boato» e que «não é verdade»".

Resta saber se o produtor se refere a ser um boato e não ser verdade que o cinema já esteja vendido ou se toda a notícia não tem fundamento.
Por enquanto a questão continua a ser apenas abordada lateralmente. Esperamos, no entanto, que tudo não passe de um equívoco ou de um negócio que efectivamente não se vai concretizar.

terça-feira, novembro 20, 2007

Cinemas King, outro fim anunciado?

Já há muito que sabiamos que o produtor Paulo Branco, proprietário da Medeia Filmes, detentora dos cinemas King e Nimas, em Lisboa, e com presença nos cinemas Monumental, Saldanha Residence, entre outros, estava em apuros financeiros. Depois dos megalómonos projectos falhados da exploração das salas de cinema do Alvaláxia e do Freeport de Alcochete, e com o fecho do cinema Ávila (do mesmo grupo), eis que se segue o encerramento do King, segundo o jornal Correio da Manhã (a propósito do fecho do Quarteto), para “a construção de garagens do Hotel Lutécia”.
O que vai ser da Atalanta Filmes, distribuidora que faz parte do grupo Medeia, e responsável pela programação do melhor cinema da cidade? Quem vai agora passar filmes menos comerciais, essencialmente europeus, asiáticos, nacionais ou independentes? É certo que não tinha o fulgor de outrora, mas pelas suas salas passaram grandes filmes de realizadores pouco conhecidos a par de conceituados cinaestas, ciclos de cinema de autor, sessões temáticas, uma programação de excelência, em salas muito mais confortáveis e com melhores condições do que por exemplo o Londres, Quarteto ou até mesmo algumas salas do Monumental ou Saldanha, numa zona com Metro, comboio e autocarros e numa das áreas residenciais e comerciais mais importantes de Lisboa (Av. Roma).

É óbvio que ninguém pode por as culpas no produtor, este tem um negócio, e tem de o gerir. Mas a Câmara Municipal, ou mesmo o Ministério da Cultura têm de estar atentos a estas situações. Com a saída de cena do King, abre-se uma grande lacuna em termos de programação cinéfila na cidade de Lisboa. E não estou aqui sequer a falar de um nicho de mercado dos mais residuais, estou a falar de uma imensa minoria, como vulgarmente se diz.
Cada vez mais, quem quer ver bom cinema tem de se limitar aos Festivais (de que o Indie ou o Doc são bons exemplos), ou a Cinemateca, que ainda assim não tem capacidade (nem será certamente do seu âmbito) para estrear novas produções. O Indie Lisboa, inclusive, já não irá usar o King como parceiro, optanto este próximo ano pela sala do Teatro Maria Matos, mesmo ao lado do King (a par do habitual cinema S. Jorge, Londres e Fórum Lisboa).
Alguém que pegue no Quarteto, faça as devidas obras, e adopte a programação cultural de distribuidoras como a Atalanta ou a Midas Filmes. Já que a Câmara não pega no extinto cinema Ódeon, mesmo ao lado do antigo Condes (actual Hard Rock Café). Salas camarárias como o S. Jorge ou o Fórum Lisboa poderiam também ter uma programação regular alternativa (que podia ser entregue a uma entidade privada), nos períodos em que estas salas não estão a ser usadas para festivais, concertos e outras actividades.
Aguardam-se mais novidades de mais uma atentado à cultura. Para já apenas existe uma pequena nota neste jornal.

sábado, novembro 17, 2007

Cinema Quarteto...fechado

Inspecção fecha cinema

Ainda há poucos dias falei aqui da situação do cinema Quarteto. A 5 dias de completar 32 anos, o cinema foi fechado pelo IGAC devido a “anomalias graves que colocam em risco a segurança do público”.
Ler as noticias aqui:

sexta-feira, novembro 16, 2007

Animal Collective, "Strawberry Jam" (2007)

Mais boa música que tem passado por aí nos últimos tempos. Fica a sugestão.

Track #1 Peacebone

Track #5 Fireworks
(o trautear mais conhecido do último Verão, a seguir ao assobio de Superstars II de David Fonseca)


quarta-feira, novembro 14, 2007

Sicko, de Michael Moore

No cinema Nimas, Lisboa

Desta vez Michael Moore foi longe demais. Com "Sicko", o realizador está mais tendencioso, simplista e ficcional que nunca. O seu objectivo é mais uma vez demonstrar o lado podre da América, mais especificamente o sistema social de saúde, contrapondo-o a países que considera exemplos "democráticos", como Canadá, França, Inglaterra ou mesmo Cuba. Fá-lo, sem comparar mais nenhuma variável, isolando o sistema de saúde e tecendo as consideraçoes que bem lhe apetece. Não estávamos à espera de outra coisa. Este filme não é obviamente um trabalho jornalistico isento, mas sim um documentário que é claramente a visão do homem, cidadão e realizador Michael Moore. Mas é precisamente essa atitude de moralizar sem parecer que o está a fazer, ou o acto de criticar, dando a ilusão que apresenta todos os lados da moeda, que faz do realizador um caso ímpar. Quanto mais não seja pela comicidade do filme, ainda que verse sobre assunto tão sério, justifica-se o visionamento do filme, e como já referi anteriormente aquando da passagem de "Manufacturing Dissent" pelo Doc Lisboa, Moore consegue trazer à ordem do dia assuntos que de outra forma estariam adormecidos. Para o bem para o mal é também nisso que reside o seu mérito.
http://www.sicko-themovie.com

terça-feira, novembro 13, 2007

Beirut "The Flying Club Cup" (2007)

O novo álbum dos Beirut está aí para descobrir novas sonoridades, sensações e experiementar novos estados de espírito. Se por um lado, no estilo musical assemelha-se a alguns momentos Yann Tiersen e com alguns ares de Divine Comedy, ao nível vocal, a voz do vocalista Zach Condon aproxima-se à de Owen Pallett que não é mais do que o mentor dos Final Fantasy, colaborador dos Arcade Fire, e que neste álbum é responsável pelos arranjos de cordas, e canta uma das músicas do álbum. Não se trata de comparar, mas apenas identificar referências já que os Beirut valem por si.

Beirut: "Elephant Gun", do EP que antecedeu este álbum.


E um cheirinho de Final Fantasy (que tive a honra de conhecer há 2 anos em concerto na Galeria ZDB):

Final Fantasy - He Poos Clouds

Beirut: www.beirutband.com

Final Fantasy: www.myspace.com/owenpalletmusic

domingo, novembro 11, 2007

As Canções de Amor, de Christophe Honoré

Depois do filme "Em Paris", o realizador Christophe Honoré volta e encontrar esta cidade, que serve uma vez mais de cenário a um filme seu. De facto, começa a ser dificil imaginar um filme deste realizador sem que a cidade das luzes não seja ela própria uma personagem, tão importante como as demais. "Les Chansons de Amour", fala-nos naturalmente, de amor, que aqui é visto nas suas mais diversas espécies e feitios. Mas a saudade, a família, a perda e a solidão, são igualmente eixos estruturantes do enredo, temáticas essas que já nos anteriores filmes vimos reflectidas.

Louis Garrel, é uma vez mais um actor fundamental num filme de Honoré. É um dos melhores actores da sua geração, estando mesmo a criar um estilo muito próprio. Cada filme em que participa, é como se acompanhassemos um pouco da sua evolução, um capítulo da sua vida, como se em todos os filmes em que entra (mesmo os que não são de Honoré), a personagem fosse a mesma, ainda que com diversas máscaras e em distintos ciclos da sua evolução. Essa personagem-tipo que Garrel está a construir é a do jovem inquieto, divertido, infantil, que não quer crescer, bon vivant e boémio. Este Ismael, sua personagem, não é muito diferente, mas está mais instrospectivo, mais maduro e pela primeira vez tem um emprego!. Neste filme, a sua personagem vê o seu triângulo amoroso desfazer-se devido a um acontecimento devastador.

O filme divide-se em três actos, sempre com música à mistura, que aqui não é um mero efeito decorativo. As músicas são do artista Alex Beaupain, interpretadas pelos próprios actores e conferem ao filme um efeito único que só os musicais conseguem criar. Sabemos o que vai na alma das personagens através desta excelente banda sonora. Ao mesmo nível de "Em Paris", "As Canções de Amor" é um filme original, que vai beber muitas das suas influências à Nouvelle Vague francesa, actualizando-a e refrescando-a, com uma boa história e realização, bons actores (incluido também Chiara Mastroianni), excelente banda sonora, e... Paris!

Let's look at the trailer:

sexta-feira, novembro 09, 2007

Festival Número Projecta 07

de 8 a 14 de Novembro, Lisboa

O Festival Internacional de Artes Multimédia, Cinema e Música está no Cinema S. Jorge, Quarteto (até que enfim, albergam novamente qualquer coisa a ver com cinema) e Centro Cultural o Século.
http://www.numero-projecta.com

quinta-feira, novembro 08, 2007

Interpol @ Coliseu de Lisboa

7/11/2007

Coliseu cheio, ambiente incendiário, é caso para chamar a polícia, é caso para chamar os Interpol!

Concerto eficiente, nem muito efusivo, mas nem por isso deprimente. São os Interpol a não fugir muito ao seu registo habitual (que já tinham apresentado em Junho no Festival SBSR), mas ainda assim a levar os fãs mais acérrimos ao êxtase.
Crítica e fotos no site Blitz.

quarta-feira, novembro 07, 2007

A Morte do Sr. Lazarescu

Estreia 8 de Novembro

Em Maio de 2006, referi aqui que este filme "foi um dos melhores filmes em competição no festival Indie Lisboa 2006 (recebeu uma Menção Especial), e espera-se que venha a ter estreia comercial porque é demasiado bom para ficar circunscrito ao circuito dos festivais". Ano e meio depois, quando já nem esperava por edição em DVD, eis que a Atalanta se lembrou de o distribuir. Fica o trailer para abrir o apetite.

terça-feira, novembro 06, 2007

Cinema Quarteto, o cinema fantasma


Em Janeiro de 2004, referi aqui o que Eduardo Prado Coelho no jornal Público sentenciava: "Mas também o Quarteto decaiu e se tornou um lugar inóspito onde quase ninguém se lembra de ir". Não podia estar mais certa a visão deste cronista, entretanto falecido. Recentemente voltei ao Cinema Quarteto, e deparei-me com um cenário no mínimo caricato. O Cinema Quarteto é o que considero um cinema fantasma. Neste momento a programação é constituida por filmes repetidos, de alguma qualidade, e em alguns casos passam pouco tempo depois da estreia, ou quando ja não se apanham em nenhuma outra sala, o que até considero positivo. Considero até que faz todo o sentido existir um cinema de repetições (antigamente Lisboa tinha vários cinemas de reprise, onde normalmente o povo via os filmes a preço acessível, já que as grandes estreias no Tivoli, Condes, Odeon, Eden, eram quase sempre para a elite). Contudo, não podia estar mais decadente, embora o atendimento até tenha sido exclusivo. O mesmo senhor que me vendeu o bilhete, foi quem projectou o filme. A sala estava vazia, e acabou por ser um previlégio o visionamento de um filme desta forma. O preço do bilhete parece-me demais, 4 euros, mas até entendo que haja custos a suportar. O bar estava fechado, provavelmente por ter sido um dia de semana à tarde, mas não tenho a certeza que abra à noite.

Mas há algo de único no Quarteto, um certo glamour decadente, como lhe chamaram aqui. São os posters vintage nas paredes, os acessos às salas, feitos via estreitas escadas, que por vezes subimos e descemos às escuras, as películas que já estão gastas, o cheiro a mofo, as cadeiras vermelhas já muito usadas e até os bilhetes antigos e em escudos (não sei se é assim intencionalmente, para dar um ar de revivalismo kitch ou porque a máquina é mesmo antiga). Foi um cinema de autor e de filmes de vanguarda (como se refere aqui), criado no pós 25 de Abril. É uma pena ver este cinema morrer. Por um lado a sua localização não é das melhores. Não se passada nada na Av. EUA, entre a Av. de Roma e Entre-campos, não há esplanadas, cafés ou comércio, só vai para aqueles lados que vive lá. Por outro lado, o Quarteto nos últimos anos, sempre teve dificuldade em competir com outras salas, o que advém do facto de muitos produtores serem igualmente distribuidores e até proprietários de cinemas (como é o caso da Castello Lopes). Ainda recentemente, as salas do Quarteto eram requisitadas para festivais e ciclos de cinema: Semana do Cinema Espanhol, Festival de Cinema Gay e Lésbico, Cinema Fantástico - Inatel, maratonas de filmes por altura de aniversário... hoje, pelo que me contam, até há sessões que atrasam porque há salas alugadas a entidades que nada têm a ver com a Sétima Arte (ao estilo cinema Império, se é que me estão a entender...). Alguém que pegue naquilo antes que seja tarde! Que bom seria poder ver lá, de forma regular, filmes que por exemplo tivessem passado em festivais como o Indie Lisboa, Doc Lisboa, Fantasporto ou Festroia, e para os quais há público. Talvez um dia...

segunda-feira, novembro 05, 2007

O regresso dos Joy Division

A obra dos Joy Division vai ser reeditada em Portugal, remasterizada e com extras. Notícia aqui.
A 15 de Novembro estreia por estas bandas o filme "Control", de Anton Corbijn, sobre a história de Ian Curtis, vocalista dos Joy Division. Fica aqui o trailer:

domingo, novembro 04, 2007

Postais Ilustrados

Lisboa

Mais alguns postais ilustrados da cidade (clicar para aumentar). Desta vez 3 praças a preto e branco. Desconhecem-se as datas.



sexta-feira, novembro 02, 2007

Manufacturing Dissent: Uncovering Michael Moore, de Rick Caine e Debbie Melnyk
DocLisboa 2007

Quem é Michael Moore? Um amigo da Humanidade, ou um mentiroso manipulador? A uma semana da estreia do novo filme deste realizador polémico, o Doc Lisboa passou, no passado domingo, "Manufacturing Dissent: Uncovering Michael Moore". O filme, inicialmente pensado como um documentário de elogio ao trabalho de Moore, acompanhou os seus movimentos durante a campanha eleitoral americana de 2004, na qual Moore tentou mobilizar o país para não votar em Bush, acompanhando também a estreia do polémico "Fahrenheit 9/11". Perante o facto de não conseguirem marcar uma entrevista com Michael Moore, o feitiço vira-se contra o feiticeiro, e como fiéis discípulos do modelo adoptado por este, o âmbito deste filme é alterado no sentido de desmascarar aquele que consideram um verdadeiro hipócrita. Adoptando então o modelo de entrevistas a conhecidos, amigos, rivais, colaboradores, etc, de Moore, o filme tenta por a nú os métodos e meios que o realizador utiliza nos seus documentários. São apresentadas algumas incoerências, processos de edição que revelam manipulação intencional, adulteração de factos, etc. Na verdade Moore até pode manipular a verdade em alguns momentos, mas ninguém é obrigado a acreditar em tudo o que vê, e a "verdade" que apresenta nos seus filmes deve ser sempre questionada e não apenas interiorizada como verdade absoluta. A sua visão das coisas deve ser entendida como isso mesmo, uma visão, como outra qualquer. Tem, contudo, o mérito de colocar na agenda política norte-americana (e mundial) determinados temas. Este documentário contra Moore, pode e deve ser também questionado, até porque também ele parece manipulador e tendencioso. Custa-me a crer que este filme, pensado originalmente como uma "homenagem ao mestre", passe tão facilmente para o seu oposto. Dizer mal de Moore acaba por ser fácil. Não sou particularmente fã do género Michael Moore, mas como se costuma dizer, não é com vinagre que se apanham moscas! Quem é afinal Michael Moore? Ficámos ainda sem saber.

O filme está editado em DVD pela Midas Filmes.