Já há muito que sabiamos que o produtor Paulo Branco, proprietário da Medeia Filmes, detentora dos cinemas King e Nimas, em Lisboa, e com presença nos cinemas Monumental, Saldanha Residence, entre outros, estava em apuros financeiros. Depois dos megalómonos projectos falhados da exploração das salas de cinema do Alvaláxia e do Freeport de Alcochete, e com o fecho do cinema Ávila (do mesmo grupo), eis que se segue o encerramento do King, segundo o jornal Correio da Manhã (a propósito do fecho do Quarteto), para “a construção de garagens do Hotel Lutécia”.
O que vai ser da Atalanta Filmes, distribuidora que faz parte do grupo Medeia, e responsável pela programação do melhor cinema da cidade? Quem vai agora passar filmes menos comerciais, essencialmente europeus, asiáticos, nacionais ou independentes? É certo que não tinha o fulgor de outrora, mas pelas suas salas passaram grandes filmes de realizadores pouco conhecidos a par de conceituados cinaestas, ciclos de cinema de autor, sessões temáticas, uma programação de excelência, em salas muito mais confortáveis e com melhores condições do que por exemplo o Londres, Quarteto ou até mesmo algumas salas do Monumental ou Saldanha, numa zona com Metro, comboio e autocarros e numa das áreas residenciais e comerciais mais importantes de Lisboa (Av. Roma).
É óbvio que ninguém pode por as culpas no produtor, este tem um negócio, e tem de o gerir. Mas a Câmara Municipal, ou mesmo o Ministério da Cultura têm de estar atentos a estas situações. Com a saída de cena do King, abre-se uma grande lacuna em termos de programação cinéfila na cidade de Lisboa. E não estou aqui sequer a falar de um nicho de mercado dos mais residuais, estou a falar de uma imensa minoria, como vulgarmente se diz.
Cada vez mais, quem quer ver bom cinema tem de se limitar aos Festivais (de que o Indie ou o Doc são bons exemplos), ou a Cinemateca, que ainda assim não tem capacidade (nem será certamente do seu âmbito) para estrear novas produções. O Indie Lisboa, inclusive, já não irá usar o King como parceiro, optanto este próximo ano pela sala do Teatro Maria Matos, mesmo ao lado do King (a par do habitual cinema S. Jorge, Londres e Fórum Lisboa).
Alguém que pegue no Quarteto, faça as devidas obras, e adopte a programação cultural de distribuidoras como a Atalanta ou a Midas Filmes. Já que a Câmara não pega no extinto cinema Ódeon, mesmo ao lado do antigo Condes (actual Hard Rock Café). Salas camarárias como o S. Jorge ou o Fórum Lisboa poderiam também ter uma programação regular alternativa (que podia ser entregue a uma entidade privada), nos períodos em que estas salas não estão a ser usadas para festivais, concertos e outras actividades.
Aguardam-se mais novidades de mais uma atentado à cultura. Para já apenas existe uma pequena nota neste jornal.
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