O meu contacto com os Joy Division pode dizer-se que é "recente". Nasci apenas um ano depois da morte de Ian Curtis e apesar de não saber muito bem quando comecei a reconhecer os primeiros acordes de músicas como "Love will Tear us Apart", "Transmission", ou "She's lost control", a verdade é que não foram assim tantas as vezes que ouvi os seus álbuns, o que não significa que não necessite de os ouvir de vez em quando, e que os aguarde com alguma ansiedade, em muitas dessas noites por aí. Acabei por acompanhar mais, naturalmente, a banda pós Ian Curtis, os New Order. Mas foi o filme "24 Hour Party People" que inicialmente me chamou a atenção para essa personagem incompreendida, conflituosa e amaldiçoada que é Ian Curtis.Talvez porque não sou um fã incondicional da banda, é que terei gostado tanto do filme. Porque o apreciei apenas enquanto filme e vendo Ian Curtis para além do mito, apenas na sua dimensão humana, e claro está, mortal. E que dificil tarefa essa de fazer um filme tão aguardado, um biopic de alguém tão amado e venerado. Mas Anton Corbijn fê-lo na perfeição nesta que é a sua primeira realização para cinema. Corbijn é um conhecido fotógrafo (daí a perfeição estética da fotografia do filme), responsável pela realização de alguns videoclips.
"Control" documenta os últimos anos da vida de Curtis (na verdade, são também os primeiros enquanto jovem adulto), desde a relação com a sua mulher, com quem casou muito cedo e teve uma filha, à relação com a amante, a luta e o inconformismo face à doença (epilepsia) e o medo do que o futuro lhe reservava enquanto artista em ascensão. Ian Curtis suicidou-se a 18 de Maio de 1980, mas é impressionante a actualidade e proximidade desta figura. Muito se tem escrito sobre este filme. Foi capa de publicações como "Ipsilon" (do Jornal Público), "Actual" (do Expresso), com grande destaque na Blitz, Time Out,etc. São artigos e críticas em grande parte escritos pelos tais fãs incondicionais, ou pelo menos por alguém que tenha um conhecimento suficiente da obra da banda e da história do seu vocalista. Também por isso não me atrevo a escrever muito mais. Destaco no entanto, e ainda, as excelentes interpretações do quase estreante Sam Riley (que já tinha estado em "24 Hour Party People", contudo a sua cena não fez parte da versão final do filme) e Samantha Morton (de quem me lembro do filme de Woody Allen, "Sweet and Lowdown"). Destaco ainda a fotografia, a preto e branco, mas também a cinzento e o tom sombrio da película, tão próximos da personalidade de Curtis e do cinzentismo da sua história. E por fim, a excelente banda sonora: Joy Division, New Order, David Bowie, Roxy Music, Velvet Underground...










Depois do filme "
Em Janeiro de 2004, referi
Mas há algo de único no Quarteto, um certo glamour decadente, como lhe chamaram 


Quem é Michael Moore? Um amigo da Humanidade, ou um mentiroso manipulador? A uma semana da estreia do novo filme deste realizador polémico, o Doc Lisboa passou, no passado domingo, "Manufacturing Dissent: Uncovering Michael Moore". O filme, inicialmente pensado como um documentário de elogio ao trabalho de Moore, acompanhou os seus movimentos durante a campanha eleitoral americana de 2004, na qual Moore tentou mobilizar o país para não votar em Bush, acompanhando também a estreia do polémico "Fahrenheit 9/11". Perante o facto de não conseguirem marcar uma entrevista com Michael Moore, o feitiço vira-se contra o feiticeiro, e como fiéis discípulos do modelo adoptado por este, o âmbito deste filme é alterado no sentido de desmascarar aquele que consideram um verdadeiro hipócrita. Adoptando então o modelo de entrevistas a conhecidos, amigos, rivais, colaboradores, etc, de Moore, o filme tenta por a nú os métodos e meios que o realizador utiliza nos seus documentários. São apresentadas algumas incoerências, processos de edição que revelam manipulação intencional, adulteração de factos, etc. Na verdade Moore até pode manipular a verdade em alguns momentos, mas ninguém é obrigado a acreditar em tudo o que vê, e a "verdade" que apresenta nos seus filmes deve ser sempre questionada e não apenas interiorizada como verdade absoluta. A sua visão das coisas deve ser entendida como isso mesmo, uma visão, como outra qualquer. Tem, contudo, o mérito de colocar na agenda política norte-americana (e mundial) determinados temas. Este documentário contra Moore, pode e deve ser também questionado, até porque também ele parece manipulador e tendencioso. Custa-me a crer que este filme, pensado originalmente como uma "homenagem ao mestre", passe tão facilmente para o seu oposto. Dizer mal de Moore acaba por ser fácil. Não sou particularmente fã do género Michael Moore, mas como se costuma dizer, não é com vinagre que se apanham moscas! Quem é afinal Michael Moore? Ficámos ainda sem saber.