Marion (Julie Delpy) e o seu namorado Jack (Adam Goldberg) após umas atribuladas férias em Veneza, resolvem passar dois dias em Paris, cidade mãe de Marion. Não existirá melhor lugar do que Paris para reacender a chama de uma paixão que já viu melhores dias, mas a cidade dos amantes, cedo se revelará a cidade de todos os amantes... dela. Julie Delpy escreveu e realizou esta que é a sua primeira longa metragem, bem ao estilo Richard Linklater (Delpy foi protagonista de Before Sunrise e Before Sunset do realizador), mas também com grande proximidade de diálogos, personagens e um enredo dado a equivocos, típico de Woody Allen. Aliás, Jack, interpretado por Adam Goldberg, é o tipico americano neurótico, medroso e hipocondriáco, à imagem de Allen (também judeu), e não será menos verdade dizer que Delpy nos faz lembrar também Diane Keaton, por exemplo em Annie Hall.

Julie Delpy, como realizadora e argumentista, consegue dar-nos um pouco mais do que essa colagem estilistica. Consegue fazer uma comédia romântica inteligente, que põe a um canto as típicas comédias românticas recheadas de lugares comuns. Contudo, o filme não é, seguramente, uma obra-prima, longe disso. É um filme despretensioso que nos apresenta uma Julie Delpy também ela própria neurótica, irritadiça, mal-educada e mentirosa, longe da imagem de menina bem comportada que temos dela. Todavia, a dada altura a fórmula do filme parece ter-se esgotado, e há claramente momentos de impasse ou pouco consistentes na história, e que poderiam ser resolvidos e tratados de forma diferente. Talvez, como li numa crítica no jornal Público, o filme fizesse mais sentido como curta metragem.
Por detrás da história da relação do casal propriamente dita, há toda uma critica presente, relativa aos estereótipos americanos e franceses, tais como as paranóias dos americanos quanto ao terrorismo, com alfinetadas à administração Bush, os comportamentos libertinos e boémios dos franceses e as demonstrações de xenofobia, machismo e preconceito dos taxistas.

Por fim, de salientar alguns pormenores curiosos. Os pais de Delpy no filme são de facto os seus pais, Adam Goldberg é seu ex-namorado e o gato Jean Luc é, na realidade o seu gato Max. Será esta a verdadeira Julie Delpy, que se quis mostrar ao mundo cinematográfico como é de verdade? Provavelmente não. E como bónus, uma pérola de tradução: diz Jack “I watched M until four in the morning” (refere-se a "M", filme de Fritz Lang de que é inclusive mostrado um excerto quando o mesmo está a ser visualizado); a tradução foi: “Estive a ver a MTV até às 4 da manhã”!
Erik viverá um dos grandes conflitos da sua vida, suportar aquele regime rigoroso mas simultaneamente destacar-se pondo em causa as regras e leis sob as quais aquele colégio se rege. Estamos face a um filme que embora passado na Suécia dos anos 50, podia passar-se hoje. Não estamos afinal tão longe de realidades nas quais os abusos fisicos e psicológicos, bem como a dominação simbólica ao mais alto nível, está presente. Estreado em Portugal em 2005 (com um ano e meio de atraso) este filme esteve nomeado em 2004 para Óscar de melhor filme estrangeiro. Boas interpretaçoes e um argumento coerente e eficaz, fazem de "Cruel" um bom filme.
Hoje provavelmente estas revistas até eram mais baratas. Longe vão os tempos em que a Portugal só chegavam as edições brasileiras, tendo começado a surgir, sensivelmente há 18 anos, as primeiras ediçoes portuguesas, com uma tira no canto superior direito, das cores da bandeira nacional. Longe vão os tempos em que me dirigia ao quiosque perto da minha casa, e pedia para entrar e ver qual é que me apetecia comprar... porque apesar de gostar da Disney na globalidade, para mim genuínos eram os Tio Patinhas e os Donald, e não personagens secundárias que por vezes tinham direito a histórias exclusivas. Longe vão os tempos de leitura destas revistas na praia ou antes de adormecer... ou a qualquer hora do dia.
Provavelmente não leio nenhuma destas revistas há mais de 10 anos, mas é daquelas coisas que nunca imaginamos que um dia vá acabar. Agora, resta aos fãs e crominhos da BD correr até aos alfarrabistas. Eu serei um deles. Enfim, os clássicos são assassinados por causa de Floribellas e Chiquititas fúteis e anormais, de quem já não se ouvirá falar daqui a um ano ou dois.



