O último dia do festival decorre num ambiente mais pacífico, menos competitivo e agitado. É o dia em que todas as decisões já estão tomadas e resta aos espectadores ver ou rever os filmes premiados. Este é o dia em que vê-se menos o público habitual do festival e aparecem algumas caras novas, curiosas quanto aos premiados.
"Forever" recebeu o prémio dos votos dos espectadores. Nada fazia prever, uma vez que durante praticamente todo o festival era "The U.S. Vs John Lennon" o potencial vencedor (podemos acompanhar sempre essa votação no decorrer do festival). Aliás, este filme passou apenas 2 vezes e em horários pouco famosos, e foi certamente a sessão das 18:30 de dia 28, que terminou apenas 1h30 antes da sessão de encerramento, que veio alterar a ordem das coisas. O prémio atribuido pelo público a este filme apenas prova que a maioria do público não se deixou levar pela facilidade de votar em filmes mais acessiveis (mas igualmente bons) como "Shortbus" ou "The Hottest State", e premiou uma obra poética, com um ritmo muito próprio e com uma temática muito pesada - a morte. Na realidade este é um documentário que tem como cenário o famoso cemitério de Père-Lachaise em Paris, onde estão sepultados famosos como Oscar Wilde, Marcel Proust, Maria Callas, Edith Piaf, Jim Morrison, entre outros. Ao longo de hora e meia a realizadora aborda algumas das pessoas nesse cemitério que nos falam da sua relação com a arte, e com a morte. Alguns vão apenas visitar um familiar, por a conversa em dia, limpar e arrumar a campa, procurar um pouco de isolamento e de silêncio. Outros, vão visitar as campas dos famosos, que de uma forma ou de outra mudaram a sua vida. Todos têm histórias interessantíssimas para contar. Todos têm um olhar triste e nostálgico. Em alguns casos acompanhamos mesmo um pouco das suas vidas, e de que forma estão ligados a uma determinada personalidade enterrada ali. É o caso de uma pianista cujo pai já falecido era fã de Chopin, do pintor que aos 20 anos não entendeu a obra de Proust, mas que aos 35 lhe mudou a vida, de um homem que ganha a vida a embalsemar mortos, etc. É um documentário que alia a arte, um dos expoentes máximos da vida, à morte e à forma como quem cá fica lida com essa realidade.